sábado, 3 de maio de 2008

Canivete Suíço


@#$X*% do Bin Laden! Desde setembro de 2001 a rotina de quem “bate mala” pelo mundo ficou insuportável. A cada novo embarque ou conexão, a mesma celeuma: abre a mochila, tira o laptop. Bota o celular na bandeja. Any coins in your pocket? Tira o cinto e o casaco. Passa pelo raio-x. Piiiiiii. Please go back and take your shoes off! Passa de novo. Guarda tudo de volta. Veste o cinto, o casaco e o sapato...

Por causa disso, há sete anos, aposentei meu canivete suíço. Ia comigo para todo lugar, preso ao chaveiro. Consertou mala quebrada, desencapou fios, abriu pacotes e aparafusou muito cabo de panela frouxo. Descascou fruta, abriu lata e sacou rolha. Esculpiu as iniciais da namorada junto às minhas. Tê-lo comigo dava uma espécie de segurança: em se acabando o mundo, ali estava minha ferramenta de sobrevivência. Bin Laden acabou com isto.

Descobri então quão paradoxal é um canivete suíço. Tão multifuncional e, ao mesmo tempo, tão limitado. Útil em certas funções e ocasiões, inútil em outras (você abriria um vinho raro com o saca-rolhas de um canivete suíço?). Como usar aquele apetrecho em forma de gancho? Ou aquela lâmina pontiaguda com um furinho no meio? Pra que serve? Serve pra tudo; não serve pra nada. Sobrevivi sem ele...

Mesmo esquecido no fundo da gaveta (aposentadoria precoce imposta pelo terrorista), guardo com carinho o paradoxo de 1001 (in)utilidades que está comigo desde a adolescência. Seu destino já é certo: será herdado pelo David. Passará de pai pra filho. Como o relógio que um dia terei, também suíço.

“Canivete Suíço” é um espaço que o AmuseBouche abre para qualquer tema, idéia ou assunto não relacionado ao tema principal do blog. Os amigos da blogsfera estão convidados a participar, enviando seus textos e idéias para rmo77@uol.com.br

2 comentários:

Gourmandisebrasil disse...

Costumo andar com um saca rolha na bolsa. Ainda lembro de colocar na mala para despachar. Já "perdi" colírio, maquiagem (rímel e gloss), desodorante e remédio que ficaram na revista. Já vi até duas freiras terem que jogar água benta no lixo.
abs,
Nina.

Rafaela disse...

O meu está bem guardado numa gaveta também...

Esta semana voltei da casa da minha mãe no Rio Grande do Sul cheia carregada e morrendo de medo de perder alguma coisa na revista, mas felizmente passei com tudo - incluindo os 16 kg de excesso de bagagem. :)

Abraços.
Rafaela