
Bebo geralmente um ou dois cálices no jantar. Sei que taças usar e a que temperatura servir. Não erro muito na hora de combinar com a comida. Em um ou outro caso sei até porque aquela uva se desenvolveu melhor naquele lugar. Sei fazer cara de sabedoria ao observar o líquido contra a luz, girar a taça para ver as lágrimas, incliná-la e conferir o “halo aquoso”, aspirar fundo. Consigo identificar alguns aromas e até alguns sabores. Engano um montão de gente: lá na empresa cabe a mim escolher o vinho nos jantares com clientes importantes. E o melhor é que dou sorte na escolha em 90% das vezes. Mas no fundo, no fundo, não passo de um grande curioso. Tenho que confessar.
O que conheço de vinho? Pouca coisa, uma colcha de retalhos composta por informações esporádicas que pincei aqui e ali. Nunca me preocupei em me aprofundar, aprender mais, ler um pouco. Na verdade, sempre tive preguiça. E medo. Medo de refinar demais o paladar, ficar exigente e começar a gastar uma pequena fortuna.
Mas agora, com o Amuse Bouche, a coisa muda. Como escrever um blog que fala de comida sem saber o básico sobre vinhos? Preciso de um mínimo de bagagem. Preciso conhecer um pouco mais.
Resolvi “me mexer”. Semana passada, o Marco, um dos meus melhores amigos me convidou para uma degustação de vinhos de verão, numa loja da “Grand Cru”, bem perto aqui de casa. Foi a primeira vez que participei de um evento deste tipo. Num primeiro momento, fiquei com certo receio de encontrar pessoas chatas e “up nose”. Boa surpresa, eram apenas 17 participantes, gente interessante, descontraída e de bom papo. Super-leigos, curiosos (como eu) e iniciados. Perguntas de todos os “níveis” que foram muito bem respondidas pelo Marcel, dono da loja, que dirigiu a degustação.
Ao chegar, fomos, eu e a Gabriela, muito bem recebidos pela Betty, esposa do Marcel. À mesa (grandona, bem iluminada, para 20 pessoas), 5 taças (uma para água e 4 para os vinhos), cestas com pão italiano e, muito importante, as fichas de degustação. Olhei-as de lado e pensei: Putz, como é que vou preencher isto? Vou “pagar mico”. Segunda boa surpresa: Marcel conduziu a coisa de tal forma que foi fácil tirar minhas próprias conclusões, achar aromas e sabores escondidos, “compreender o que estávamos bebendo”.
Terceira surpresa: Gabriela, mais entusiasmada do que eu esperava, revelou-se muito talentosa para degustar.
Após provarmos o último vinho da noite, mais cestas, desta vez com pães variados, e tábuas de frios. Todos enturmados, o bate papo seguiu por mais uma hora e meia! Quanto custou tudo isto: R$ 45,00 por cabeça. Justíssimo para uma 4ª. feira sem grandes expectativas. Barato se eu levar em conta o quão agradável foi o encontro.
Última surpresa da noite: saber que os vinhos que experimentamos tinham preços muito honestos e acessíveis. Impossível sair sem nehuma garrafa.
Portanto, foi uma noite ótima. Animados, decidimos nos matricular num “curso básico”. Apenas para nivelar o conhecimento. Grande começo!
Degustação de Vinhos de Verão – Grand Cru Granja Vianna – 30.Jan.2008
1) Nocturno Brut – Espumante
- Vinícola Robino – Mendoza, Argentina
- 50% Chenin / 50% Ugni Blanc
- Método Charmat
Cor leve, aroma de cítricos e fermento, acidez e frescor acentuados, corpo leve, persistência média. Obs.: servi 6ª. feira passada, como aperitivo, num jantar aqui em casa. Convidados gostaram.
2) Vicar’s Choice Sauvignon Blanc 2007 – Branco
- Vinícola Saint Clair Estate Winery – Marlborough, Nova Zelândia
- Sauvignon Blanc
Cor levemente esrverdeada (para mim lembrou feno…), aroma muito, muito marcante de maracujá, depois goiaba e grama cortada no final. Acidez acentuada, corpo leve e persistência média. Obs.: para nós foi a revelação da noite. Adoramos este vinho!
3) Kankura Carbernet-Syrah 2007 – Rosé
- Vinícola Kankura SA – Valle de Colchagua, Chile
- 80% Cabernet Sauvignon / 20% Syrah
Cor salmon brilhante, aroma floral com toques de cassis (este cassis eu tive dificuldade em achar...quem percebeu foi a Gabi). Média acidez, corpo leve. Obs.: ficou prejudicado na seqüência da degustação pois o vinho anterior (Vicar’s Choice) era muito mais intenso. Eleito melhor rosé do Chile no Guia Descorchados 2008. O Marcel contou que anteriormente a Vinícola Kankura chamava-se “Hondo de Enseada”. Cultura (in)útil: Kankura quer dizer “cântaro” em Mapuche.
4) Humberto Canale Pinot Noir 2006
- Vinícola Humberto Canale – Rio Negro, Patagônia, Argentina
- Pinot Noir
Coloração rubi intensa. Aroma amadeirado, baunilha, cereja e, o mais legal, fumaça de charuto (gostei desta!). Equilibrado. Taninos médios, leve de corpo com média persistência. Gostei bastante.