terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Sopa de Inhame


Meu bisavô materno era um sujeito singular. Como médico sanitarista, trabalhou com Oswaldo Cruz no combate à febre amarela. Ganhou medalhas e reconhecimento pelos serviços prestados à saúde e ao Brasil. Como poeta, escrevia de um jeito diferente. Contava seus “causos” à moda caipira, muito antes de Rolando Boldrin sonhar em nascer. Como ser humano, mostrou o que é ser Cristão de verdade. A gente lembra de sua sabedoria e bom humor até hoje.

Bom mineiro de Leopoldina, vovô Abel tinha algumas “manias”. Não abria mão de comer mamão todos os dias pela manhã. Segundo ele, era uma fruta amiga, que garantia a saúde e vida longa. O mamão daquela época era grande, amarelo e redondo. Nada a ver com a Papaya ou o mamão Formosa. A fruta nativa tinha fragrância forte e era menos açucarada, de sabor sutil. Crescia nos fundos da casa da Rua Sabóia Lima, na Tijuca. Sem agrotóxicos, era dividido com os passarinhos que freqüentavam o quintal. Ele conhecia cada um deles e não se importava com as bicadas em sua fruta preferida.

Outro de seus pratos preferidos era sopa de inhame. Vovô Abel dizia que sopa de inhame nutre, faz bem ao sangue e ajuda a recuperar quem está doente. É a sopa do aconchego. Era mais fácil achar inhame antigamente. Redondos, bonitos e baratos, estavam disponíveis em qualquer feira livre, que era onde se comprava frutas, verduras e legumes naquele tempo. Hoje, a menos que conheça um bom feirante, você vai pelejar para achar bons inhames. Em grandes supermercados, se tiver sorte, vai encontrar umas bolinhas envergonhadas, caríssimas.

E assim, através das manias do vovô, a família Tavares de Lacerda aprendeu a comer mamão todo dia e tomar sopa de inhame pelo menos uma vez por semana. Aprendeu muitas outras coisas também. São tantas lembranças, histórias e lições que Vovô Abel merecia um livro...Enquanto não aparece alguém com talento para escrevê-lo, relembrar esta receita (se é que se pode chamar isto de receita) é meu jeito de homenageá-lo.

Sopa de Inhame do Vovô Abel

Ingredientes:

- 500g de inhames descascados
- 1 cebola descascada e cortada ao meio.
- Sal a gosto.
- 2 colheres de sopa de manteiga.
- Cheiro verde (salsinha e cebolinha) bem picado, o quanto baste.
- Azeite extra virgem, o quanto baste.

Modo de Preparo:

1. Numa panela, coloque os inhames e a cebola e cubra-os com água.
2. Cozinhe em fogo baixo até que os inhames estejam macios e a cebola transparente.
3. Espere esfriar um pouco e bata todo o conteúdo da panela no liquidificador (na casa do vovô eles passavam na peneira, mas acho que dá muito trabalho...).
4. Volte o conteúdo batido à panela, acrescente a manteiga e acerte o sal. Se a sopa estiver muito encorpada, coloque um pouquinho mais de água.
5. Sirva bem quente, decorando o prato com um fio de azeite e o cheiro verde.

6 comentários:

Gabriela Irigoyen disse...

Adorei a receita da sopa! Estava procurando uma receita de sopa de inhame e encontrei o seu blog! Obrigada por compartilhar a receita do seu avô!

Rogério disse...

Obrigado, Gabriela! É uma sopa bem simplinha, mas muito reconfortante. Cai muito bem depois de um dia agitado :)
Seja bem vinda e volte sempre!
Abraço,
Rogério

Micheline Christophe disse...

Esta sopa é mesmo saborosísima...e um carinho no coração. Uma conchego.
Merci!
Micheline

Anônimo disse...

Ola...
Procurando uma sopa de inhame que fosse bem prática, encontrei teu blog, obrigada por dividir tua receita com a gente...e obrigada a seu avô!
um grande beijo

Nê de Abreu

Anônimo disse...

Eu aaaamo inhame, em Minas a gente chama também de cará.
Aqui onde eu moro, pago 2,99 euros por quilo, e são umas bolinhas sem vergonahs de pequena. E vale a pena!!!!
Adorei a receita, vou fazer.
Obrigada por compartilhar conosco.
Maria Amélia

Rogério disse...

Oi Maria Amélia, espero que você aproveite mesmo. Pelo jeito você mora na Europa, né? Do jeito que está frio neste inverno (esta semana estou na Inglaterra / Itália), não vai faltar oportunidade...depois conte para nós.
Abraço
Rogério